A pesquisa foi realizada de janeiro a maio de 2024 e tem o objetivo de preservar os saberes, práticas tradicionais, e alertar riscos eminentes das comunidades entre Cuiabá e VG
Por Beatriz Saturnino – Da Assessoria de Imprensa
O olhar do fotógrafo Cláudio Gomes faz um mergulho nas comunidades ribeirinhas do Praeirinho, Novo Terceiro e Porto de Cuiabá, além de Bonsucesso, em Várzea Grande, e transforma em pesquisa fotográfica e audiovisual histórias de vida dos membros mais velhos dessas comunidades, bem como de moradores comuns, daqueles que tem representatividade e que atuam diretamente em movimentos ou associações de bairro, com o objetivo de salvaguardar costumes e tradições. Trata-se do projeto “Cuiabá Ribeirinha”, que prevê a composição de um acervo etnográfico, a edição de um livro, videodocumentário e exposição fotográfica.
A pesquisa foi realizada de janeiro a maio de 2024 e tem o objetivo de preservar os saberes e conhecimentos que esses indivíduos detêm, de práticas tradicionais, algumas das quais só existem enquanto memória, para identificar e entender como se dá a produção do imaginário coletivo que norteia as práticas nessas localidades, entre Cuiabá e Várzea Grande.
Claudio Gomes produziu entrevistas por meio de fotografias e imagens de vídeo das comunidades, buscando elementos que compõem o universo físico, social, cultural e artístico das comunidades ribeirinhas para compor o acervo de pesquisa, onde pretende produzir um livro, videodocumentário e exposição fotográfica, no mês de setembro.
“Nesta pesquisa fotoetnográfica eu retratei o cotidiano de moradores e seus personagens com enfoque na pesca artesanal, que resiste há anos. É urgente compreender o modo de vida sustentável dessas pessoas, que está ancorado na pesca artesanal, onde todos conhecem profundamente o comportamento dos peixes, as variações anuais do rio Cuiabá, as baías e corixos, uma vez que todos pescam desde criança. Todos estão apreensivos com a possível construção de mais hidrelétricas”, destaca o fotógrafo Cláudio Gomes, como resultado de sua pesquisa.
Uma das características que singularizam Cuiabá é ser uma cidade cortada por rios que envolvem seu perímetro urbano, em torno dos quais, com certa proximidade das áreas mais urbanizadas e densamente povoadas, que habitam comunidades ribeirinhas guardando saberes tradicionais.
Essas localidades, no entanto, não estão isoladas e possuem um cruzamento sociocultural, onde o tradicional e o moderno se misturam nessas comunidades ribeirinhas, apresentando a cerâmica, a viola de cocho, o Siriri, o Cururu e a festa de São Gonçalo como bens plenos de significado simbólico.
Além de revelarem os conhecimentos necessários à sua produção, permeiam entre eles as crenças, os valores, o espírito de solidariedade e a vida das comunidades ribeirinhas. Esse sentimento de pertencimento constitui a essência da comunidade.
“Portanto, o objetivo e benefícios alcançados do projeto é de alertar autoridades em geral dos riscos eminentes que as comunidades ribeirinhas podem sofrer”, frisa o fotógrafo em seu relatório final de pesquisa do projeto Cuiabá Ribeirinha.
A PESQUISA
Para a realização da pesquisa, o fotógrafo-pesquisador participou de festas e reuniões comunitárias, além das visitas nas atividades cotidianas, de lazer e trabalho dos ribeirinhos.
Dentre os personagens entrevistados há festeiros, líderes religiosos, presidentes de bairro, jovens e adultos que tenham nascido nas localidades e saído para morar fora e que continuam a manter laços com familiares que vivem nas comunidades, bem como aqueles que tiveram a opção de continuar vivendo nelas.
Também fazem parte da pesquisa moradores valorizados por sua atuação artística, cultural ou política dentro da localidade, como professores, comerciantes, poetas, músicos e outros. Além de moradores mais velhos que exercem ou exerceram atividades tradicionais como parteiras, benzedeiras, raizeiros, trabalhadores de engenhos, artesãos, pescadores, entre outros.
O projeto Cuiabá Ribeirinha é uma realização do Instituto INCA-Inclusão, Cidadania e Ação, por meio de emenda parlamentar impositiva do deputado estadual Lúdio Cabral, via Secretaria Estadual de Cultura, Esporte e Lazer (Secel/MT), com apoio da Assembleia Legislativa de Mato Grosso.
CLÁUDIO GOMES
Fotógrafo autodidata, Claudio Gomes tem como influências o fotógrafo francês Eugene Atget, o húngaro André Kertész e claro, Sebastião Salgado. Mato-grossense, natural de Alto Garças, Gomes vive em Cuiabá desde 1987.