DIAGNÓSTICO - Projeto sobre quintais cuiabanos torna-se marco para pesquisadores

Quintais estes, que são produzidas e atualizadas as identidades associadas às comunidades ribeirinhas, às populações negras ou aos grupos de cultura popular


Por Beatriz Saturnino – da Assessoria de Imprensa

O Projeto “Quintais da Cultura Popular Cuiabana”, idealizado pelo Instituto INCA-Inclusão, cidadania e Ação, é considerado um marco na construção do conhecimento sobre a cultura cuiabana, por antropólogas do Grupo de Pesquisa Caleidoscópio, da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT). Parceiro do projeto, o grupo tem experiência com a cultura popular e é responsável em documentar o inventário e diagnóstico dos potentes quintais cuiabanos que será apresentado no “Fórum Quintais”, neste sábado (16.10).

O objetivo do inventário produzido a partir da pesquisa antropológica dos 10 quintais visitados, durante os oito meses de trabalho do projeto, é o de que seja um instrumento de registro a ser acionado pelos próprios grupos envolvidos. Espera-se que os "quintais" possam se reconhecer no Inventário.

Para isso, a pesquisa contou também com o trabalho das professoras e antropólogas, Alessandra Jorge e Patrícia Osorio, junto da produtora executiva do projeto, Poliana Queiroz, que também é da área de Antropologia, para documentar as sociabilidades presentes nos quintais e também as ações políticas produzidas nesses lugares. Quintais estes, que são produzidas e atualizadas as identidades associadas às comunidades ribeirinhas, às populações negras ou aos grupos de cultura popular.

A pesquisa científica realizada pelas antropólogas busca atingir diferentes esferas da sociedade, desde a população, os donos dos quintais que constroem e dão vida a estes espaços, até a esfera científica que se dispõe, neste momento, a pensar sobre o que tudo isto significa e tem a dizer. 

“Ou seja, a pesquisa, da forma como está acontecendo, ajuda a construir e dar visibilidade a uma memória que é relevante no cotidiano da capital e região. Conta a história de um povo, de uma cidade inteira, através dos diálogos, das prosas, das rodas de conversa, e isso é a representação de momentos que são especiais. A pesquisa abre caminhos para se pensar sobre estratégias, sobre possibilidades de reconhecer e mostrar as resistências, as resiliências destes quintais e das pessoas que abraçam e dão vida à cultura popular cuiabana”, explica Alessandra Jorge, que também leciona sociologia na rede estadual de ensino, em Cuiabá.

Para a pesquisadora e produtora executiva do projeto, em relação a pesquisa, além dessa proximidade da universidade na comunidade, ela é importante principalmente para inspirar que os integrantes dos grupos também possam investir na carreira acadêmica e de pesquisa. 

“Justamente para valorizar e registrar o próprio saber que a pessoa faz parte, pois muitas vezes não tem essa noção, e faz processo de preservação da cultura de forma natural e automática. Não entende a potência do ponto de vista político e de pesquisa que se pode alcançar com o saber que é dele, da própria vida dele. Para que as pessoas desses grupos possam falar por elas mesmas e não um outro vim, pesquisar sobre elas e depois sair e não voltar, deixando-os sem entender para o que serve a pesquisa acadêmica”, explica Poliana Queiroz.

REGISTRO 

A pesquisadora Patrícia ainda atenta em dizer que os quintais cuiabanos estão no centro de um complexo de práticas e saberes voltados à dança, às festas, à devoção e aos ofícios, tradicionais e próprios da região do Vale do Rio Cuiabá, formada pelos municípios de Acorizal, Chapada dos Guimarães, Cuiabá, Nossa Senhora do Livramento, Santo Antônio de Leverger e Várzea Grande.

Por isso, a pretensão do registro é a de mostrar o quanto a tradição é mantida, preservada, mas é também modificada e adaptada ao presente. Entendendo que uma tradição só se mantém porque encontra sentido no presente, e para isso os processos de mudança constituem-se na própria condição de preservação das mesmas.
            
“Observa-se o tempo dedicado às tradições, no entanto, muitos dos grupos que participaram do Projeto não dispunham de instrumentos de registros de suas práticas e saberes. E essa importância não diz respeito apenas a ter a memória fixada no texto escrito (o que é muito importante!), mas também tê-la para que o registro possa somar forças na luta por melhores condições para a continuidade e preservação de suas culturas”, pontua Patrícia, que é líder do Grupo de Pesquisa Caleidoscópio, professora do Programa de Pós-graduação em Antropologia Social e do Programa de Pós-graduação em Estudos de Cultura Contemporânea da UFMT, além de ser membro do Comitê Patrimônio e Museus da Associação Brasileira de Antropologia.

Fazem parte desse inventário os quintais do bairro São Gonçalo Beira Rio, de cerâmica das irmãs Júlia e Cleide Rodrigues, e de dona Domingas, do grupo Flor Ribeirinha; do grupo “Voa Tuiuiú, no bairro Residencial Itapajé; grupo Flor Serrana, localizado em Aricazinho, na Zona Rural de Cuiabá; grupo de Siriri Flor do Atalaia, no bairro Parque Atalaia; grupo Tradição Coração Franciscano e dos cururueiros da Associação do Grupo Cururu Tradição Cuiabana do Coxipó, no bairro São Francisco; o grupo Flor do Campo, no bairro Parque Ohara, e o quintal da Casa de Bem Bem, que está passando por restauração, localizado no Centro histórico de Cuiabá.

O projeto é uma realização do Instituto INCA, patrocinado pelo Governo do Estado de Mato Grosso, por meio da Secretaria de Estado de Cultura, Esporte e Lazer (Secel-MT), via emenda parlamentar do deputado estadual Dilmar Dal Bosco, no valor de R$ 400 mil, com o apoio da Assembleia Legislativa de Mato Grosso (ALMT) e UFMT, e parceria do grupo Caleidoscópio da UFMT.
 

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